OPINIÃO CMMS / FUNDAÇÃO CMMS



Nota histórica da Fundação da Comissão de Melhoramentos de Malhadas da Serra

Após análise de alguns documentos ligados ao nascimento formal da CMMS, e procurando escrever de forma isenta, neutra e desapaixonada, pode afirmar-se, sem qualquer dúvida, que a maior obra alguma vez construída pelos Malhadenses foi a sua Comissão de Melhoramentos. 
É uma construção que, obviamente, não foi fácil de erigir. Viviam-se tempos conturbados. O período que antecedeu o Estado Novo vivia constantes convulsões. Com a ascensão de Salazar ao poder em 1932, assiste-se a um período de uma certa acalmia social e política. Em 1933, é aprovada a Constituição da República Portuguesa, que vigorou até 1974.
O ano de 1934 é vivido, obviamente, com crispação social, que no entanto se vai atenuando. Neste ano verifica a implantação e a progressiva consolidação do Estado Novo. Se para Portugal, de um modo geral 1934 foi um ano marcante, para os malhadenses em particular, essa marca foi extremamente profunda, viram nascer a sua Comissão de Melhoramentos, a qual até aos nossos dias, tem vincado de forma indelével a povoação de Malhadas da Serra.
Estávamos numa época em que o país era essencialmente rural, as cidades viviam na infância da industrialização. Nesta conformidade, no território da Pampilhosa da Serra começava um surto migratório, com direção a Lisboa onde as Malhadas da Serra estavam bem representadas.
É deste grupo de malhadenses, com as Malhadas longe do olhar mas junto do coração, que se constroem alguns grupos de trabalho, designados por “comissões”, as quais em contacto estreito e directo com outras análogas existentes na povoação, promoveram alguns melhoramentos na sua terra natal. Período que tem o seu início por volta de 1932 até meados de 1934. Do esforço de uma dessas comissões, houve um trabalho que pela sua excelência, sobressaiu. Estamos a referir-nos à Escola Primária, que viu tantas gerações aprenderem as primeiras letras. 
Lembremos que em 1934 [1] no concelho da Pampilhosa da Serra, estavam concluídos três “belos edifícios escolares”, que se deviam à iniciativa privada, onde está incluído o de Malhadas da Serra. Atingido este objectivo, que não foi de somenos importância, desfez-se a comissão [2]. Mas a semente tinha germinado, e imediatamente outra comissão se formou para tratar da questão do abastecimento de água à povoação.
Era óbvio, as experiências tidas pelos malhadenses, com as ditas comissões, eram sem dúvida muito positivas. Construiu-se uma escola, estava em curso uma campanha de angariação de fundos para abastecimento de água à povoação, com boa adesão dos malhadenses, existiam vastos recursos humanos, tanto nas Malhadas, como no seio da comunidade Lisboeta, com vontade de por mãos à obra e partir para outro tipo de associativismo. Que permitisse um trabalho continuado, que assentasse numa organização formal, com características de permanência no tempo independentemente das circunstâncias. De uma forma natural no dia 1 de Julho de 1934, é formalizada a fundação da Comissão de Melhoramentos de Malhadas da Serra.
Como este texto deixa expresso e pela leitura das actas das reuniões de direção, a Comissão deu continuidade às actividades, anteriormente iniciadas após um período em que as energias foram gastas, sobretudo, com a implementação de regras internas de funcionamento e consolidação da Comissão em termos organizacionais.

Lisboa, 8 de julho de 2016
Isidro Alves Marques


[1] Caetano, José Maria Alves, Apostolado Cívico Pela Escrita, Lisboa, Ed. Pedro Lupi Alves Caetano, 2013, pp, 492-493
[2] Comissão: Conjunto de pessoas encarregadas temporariamente de tratar em comum um assunto.